sexta-feira, 18 de julho de 2008

Dentição dos peixes e sua forma de atacar as iscas

Dentição dos peixes e sua forma de atacar as iscas

Depois de uma boa picada na qual o carreto nos presenteia com a sua música celestial em forma de longo zumbido, a adrenalina sobe rapidamente por todo o corpo e faz-nos sair disparados para as canas com um verdadeiro tremor de pernas e o coração acelerado. O mágico momento de ferrar o peixe e sentir sua luta chegou, compensando-nos das longas esperas e das menos boas pescas de anteriores jornadas.
Mas não esqueçamos o mais importante, para que tudo isto se realize é condição “sinequanon” que o peixe morda a isca e… nem todos o fazem de igual forma, por isso tentaremos dar uma visão de conjunto de como os peixes atacam a isca.

Em primeiro lugar os peixes, como todos os animais, condicionam a sua dentição ao regime alimentar que desfrutam. No caso dos tubarões e rayas podemos encontrar dois tipos de dentes:

- Cónicos ou pontiagudos, com uma primeira fileira para morder a suas presas e outras mais internas que vão avançando para o exterior e substituindo a primeira fileira de dentes que pouco a pouco se desgastam ou perdem. Podem apresentar picos auxiliares, ser erectos ou abatidos, com contornos em serra ou lisos.

- Em mosaico, sobretudo em rayas e cações, com várias fileiras de dentes funcionais que formam uma espécie de pavimento empedrado.

No caso dos peixes ósseos podem-se distinguir três tipos de dentes segundo seja sua posição na boca:

1. º - Mandibulares, situados no pré-maxilar e maxilar, na mandíbula superior e na dentadura inferior. Os dentes mandibulares, podem ser, por sua vez, de vários tipos: Cordiformes: São numerosos, finos e pontiagudos, dispostos em várias fileiras como no caso das merluzas, (Merluccius merluccius) peixe lagarto, etc. Caniniformes: Têm forma de caninos pontiagudos, destacam-se todos os peixes do género Dentex: Dentón, ( Dentex dentex) Parguetes, Cachucho, (Dentex macrophthalmus) etc. Incisivos: São dentes com os extremos cortados em bisel, como os dentes anteriores do Pargo (Pagrus pagrus). Molariformes: Aplanados, em forma de paralelepípedo e destinados a esmagar e moer crustáceos e conchas, como os da Douradas (Sparus aurata) e Pargos Sêmea (Pagrus Auriga).

2. º - Bucais, situados no tecto da cavidade bucal e palatino. Robalos (Dicentrarchus labrax) e Bailas (Dicentrarchus puntatus) apresentam este tipo de dentes.

3. º - Faringeos, situados nos arcos branquiais. Podem servir para raspar, rasgar ou moer. Carángidos como os chicharros reais, (Caranx rhonchus) palometas (Trachinotus ovatus) e peixes limão (Seriola dumerilii) apresentam-os.

Em segundo lugar cada peixe e devido precisamente ao tipo de dentição que apresenta, ataca nossas iscas de diferente forma:


Sorvendo: Há peixes que pela falta de dentes pontiagudos
ou de uma placa óssea que lhes facilite a captura de outros peixes, crustáceos e moluscos, utilizam como forma de capturar o alimento á superficie da água a absorção ou chupando pequenos e delicados bocados ou pegando em areia e lodo do fundo para depois a cuspir e reter o alimento. São peixes que por sua forma de comer têm uma
picada em acção de pesca, muito subtil.
O exemplo deste tipo de peixes é a lisa (Liza aurata).

Sugando: Os peixes que capturam o alimento sugando-o da
maneira que o faz um aspirador, costumam rondar os areais
e têm bocas desenhadas para tal fim. Desde o ponto de vista de pesca com anzol, esta forma de comer joga contra, pois faz que a grande maioria deles os engola. Exemplo destes peixes são os salmonetes (Mullus surmuletus) e peixes planos.

Emboscada: Os peixes que praticam a pesca de emboscada
estão providos de bocas muito grandes e geralmente valem-se
da imobilidade, do mimetismo ou do emprego de chamarizes para atrair a suas possíveis presas. Uma vez fixado o objectivo este é literalmente engolido a toda velocidade por suas bocas passando inteiros ao bucho, pelo que geralmente tendem a engolir o anzol e é raro ferrá-los pelo lábio. Exemplo deste tipo de peixes são, os rascassos,
(Scorpaena scrofa) aranhas, (Trachinus araneus) e depredadores
oportunistas como os safios (Conger conger).

Rompante: Grande parte das espécies predadoras, objectivo
cobiçado dos pescadores, comem "em marcha" não parando
sequer para saborear a isca. São peixes que se valem da
sua velocidade e de um furibundo e rapidíssimo ataque sobre a presa que lhes costuma levar a engolir a isca inteira ou a ferrar-se firmemente pelo lábio, para depois seguir seu caminho nadando rapidamente. Típico deste grupo de peixes é o dar um tremendo esticão da cana seguido de um continuo zumbir do carreto levando fio, que em certas ocasiões se traduz em ver nossa cana atirada sobre a areia
ou ainda pior, arrastada para o mar. Nesta tipología poderíamos
enquadrar a bailas, robalos, corvinas, (Argyrosomus regius), pargos,
anchovas,(Pomatomus saltatrix) etc.

Envolvendo: Esta forma de comer é exclusiva de rayas, e outras espécies da mesma familia. Estes animais deixam-se literalmente cair sobre a isca cobrindo-os com seu corpo, para posteriormente dirigí-los para sua boca que está em posição ínfra e em contacto com o fundo. Costumam dar um esticão na cana e ficar quietos até que começamos a recolher apresentando uma forte resistência favorecida pela forma do seu corpo e sua forma de nadar.

Trincando: Esta peculiar forma de comer é característica dos
sargos, (Diplodus sargus spp.) safias, (Diplodus vulgaris) e afins. Estes peixes costumam ser gregários e para evitar a concorrência com outros congéneres tomam a isca levando-lho rapidamente para um lugar isolado. Costuma traduzir-se em esticões secos na cana.

Beliscando: Os peixes de boca pequena ou os herbívoros costumam comer, dando pequenos beliscos aos bocados de isca. Salemas, (Sarpa salpa), bodiões, etc., poderiam enquadrar-se neste grupo.

Cuspindo: Deixámos para o final esta peculiar forma de tomar as
iscas, por ser a habitual de dois cobiçados espáridos a Dourada
e o Pargo Sêmea. Estes peixes costumam capturar os crustáceos e moluscos com concha, pelo que seu primeiro ataque vai encaminhado a morder e romper a dura carapaça de suas presas e as matar, para posteriormente as engolir, poderíamos dizer que sua forma de comer passa por três fases: morder-cuspir-engolir. Isto costuma-se traduzir nas nossas canas por uns ligeiros toques ao princípio seguidos de um “esticão” coincidente com
o momento em que tomam e arrancam com a isca.

Paulo karva

4 comentários:

Ernesto Lima disse...

Viva Paulo!

Os meus sinceros parabéns!

Este é, sem dúvida, um artigo valioso, cuja interpretação muito pode servir a qualquer pescador atento, em variadas técnicas de pesca!

Fico à espera de mais!

Abraço!

Ernesto

Paulo karva disse...

Viva Ernesto
Obrigado pelas tuas palavras.
Vamos tentando transmitir qualquer coisa. Pode ser que ajude alguém.

Abraço

Paulo karva

MarioBaptista disse...

Boas

Nada como os conhecer a fundo, para saber-mos depois dar-lhes a volta.

Bom trabalho!

abraço

Paulo karva disse...

Viva Mário

É só uma pequena ajuda.

Obrigado!

Abraço

Paulo karva