quarta-feira, 9 de julho de 2008

CANAS DE SURFCASTING

Canas de Surfcasting

Este artigo pretende abordar o processo de fabricação das canas de Surfcasting e como actuam os diferentes factores no comportamento final das mesmas.

TIPOS DE CARBONO

O material essencial na construção do blank de uma cana de surfcasting é o Carbono. Só há um tipo de carbono, o elemento químico que é conhecido por “C” sendo que o que nos interessa para este caso o seu tipo amorfo e cristalizado chamado “grafite”.

O carbono (grafite) pode-se dividir em dois tipos, segundo a sua estrutura:

Estrutura Hexagonal (alfa): camadas alinhadas

Estrutura Romboédrica (beta): camadas desalinhadas

O tipo de estrutura é que vai influenciar os diferentes tipos de “fibra de carbono”.

FIBRA DE CARBONO

A fibra de carbono é constituída por uns filamentos de grafite obtidos a partir da submissão das fibras de poliacrilato a um processo de termólisis (degradação térmica de um material para separação das suas impurezas), com que se obtêm um material sólido carbonoso.

O tecido da fibra de carbono consegue-se unindo estes filamentos de grafite sucessivamente, mediante a contribuição de resinas plásticas, como o epoxi, o polyester ou o viniléster, conseguindo uma lâmina de fibra de carbono. Ultimamente está-se a usar em conjunto com estas resinas microparticulas de titânio. Estes produtos não incrementam quase nada, o peso do tecido de grafite e melhoram as suas propriedades, como a sua resistência ou a sua elasticidade. São estes tecidos que são utilizados no fabrico dos blanks das canas.
O módulo de elasticidade de um carbono mede-se submetendo a este uma força de tracção, com a qual o material sofre um estiramento (alongamento) e vê reduzido o seu diâmetro. O valor que obtemos é o que se conhece como módulo de Young. A parte que nos interessa é o comportamento das fibras de carbono. Quanto maior for este módulo, significa que estamos perante fibras menos elásticas e que perderam em extensão, menor diâmetro de secção. Pelo contrário, quanto menor for o valor do modulo de um carbono, significa que o seu estiramento será maior em extensão e a perda de secção da fibra poderá fazer com que esta se parta mais facilmente.

Uma fibra de carbono de alto módulo, será um material mais cristalizado e com um maior índice de dureza e menor alongamento. Esta maior cristalização do carbono de alto módulo, fá-lo ser também mais frágil aos golpes como contrapartida para a realização das nossas varas. A vantagem que tem o seu uso é que permite por um lado que as canas tenham uma estrutura mais fina porque podemos utilizar fibras mais delgadas e menor quantidade de camadas de tecido, reduzindo drasticamente o peso da cana e por outro lado, permite-nos ter um material que não vai dobrar facilmente tendo que se efectuar algum esforço para obter o beneficio de uma grande resposta no lance. Como já podem calcular uma cana feita integralmente de carbono de muito alto módulo, mais parece um pau a lançar e não vai sentir a picada nenhuma.

Uma fibra de carbono de baixo módulo é um material mais macio, com um índice de dureza pequeno e um maior alongamento. É um material mais resistente aos golpes do que o de maior módulo. Ao tratar-se de uma material mais macio, a sua estrutura deverá ser mais grossa em virtude de ter maior quantidade de fibras já que se dobram e perdem diâmetro de secção facilmente. Este carbono aplicado nas nossas canas, proporciona canas mais macias, fáceis de lançar e que marcam muito bem a picada, dada a pouca resistência do material ao comprimir-se. As canas não seram muito potentes e as sua estrutura de fibras será mais grossa com o objectivo de não partir-se por falta de secção quando num grande esforço de extensão. Como devem calcular este carbono é muito bom para a elaboração de ponteiras híbridas.

Vamos falar agora sobre os tipos de fibras de carbono. Quando pensamos nos filamentos com os quais se realizam os tecidos, poderemos julgar que têm uma secção circular, como muitas vezes se poderem ver em gráficos, mas a fibra de carbono pode ter secções muito diferentes, segundo a estrutura do carbono seja, como já referimos, Alfa ou Beta.

Assim temos dois tipos de fibras basicamente.

1. - Fibras de secção circular, que por sua vez podem ter uma estrutura interna de disposição dos átomos do carbono radial, concêntrica.

2. - Fibras de secção em T

3. - Fibras de secção em X

As primeiras, as de secção circular são as que mais aguentam, segundo o módulo de carbono em que é foram realizadas, o alongamento e também têm uma boa maleabilidade.
Estas fibras usam-se geralmente isoladas, intercalando camadas de tecido realizadas com camadas de maior ou menor módulo, dependendo da acção que se procura.

As segundas são as que mais embandeiram quando se submetem á extensão, mas têm uma clara vantagem se observarmos a sua forma, não se dobram facilmente sobre o seu eixo. Usam-se sempre junto a outras fibras para tentar compensar a curvatura da cana.

As terceiras, têm uma boa resistência á tracção e bom comportamento na curvatura, não chegando ao nível das em forma de T.

Chegados a este ponto será fácil perceber certas designações que vêm nos materiais como XT ou X carbono, T qualquer coisa, Radial Carbono, etc.

MONTAGEM POR CAMADAS DE UM BLANK – O EFEITO DAS RESINAS

Uma vez que tenhamos os nossos tecidos de fibra de carbono e conhecemos as suas características, pesos, comportamento, resistência, elasticidade, etc. começaremos a incorporar camadas dos diferentes materiais, segundo o que queremos para a nossa cana, se mais ligeira, mais lançadora ou mais sensível. Para isso vai-se sobrepondo camadas para modelarmos a forma da nossa cana.
Uma cana incorporará maior ou menor variedade de carbonos, dependendo do que se queira.
Se queremos uma cana lançadora, que tenha uma boa capacidade de resposta, que seja leve e marque bem as picadas, teremos que ter maior variedade de carbonos na sua construção.
A estas camadas podem-se juntar outros materiais, como fios de kevlar ou titânio, por dentro ou por fora ou aros paralelos, para incrementar a resistência da cana aos esforços. Se uma cana os tem é um ponto a seu favor. Da mesma maneira se jogarmos com a posição os tecidos de carbono e se incorporarmos fibras de carbono de reforço em forma elipsóide ou helicoidal, também incrementamos a resistência.

Temos de entender que o que modelamos são secções da cana não toda a cana, porque as nossas canas são geralmente de secções sejam elas telescópicas ou de partes de encaixe.
Uma vez que tenhamos a secção bem moldada, temos que passá-la pelo forno para cozer o material e assim fazer com que as diferentes camadas se unam. A união das camadas faz-se mediante a fusão dos materiais plásticos que falamos anteriormente que são os epoxis o polyester e o vinil éster que colam as camadas umas ás outras fundindo a secção. Uma vez concluída esta parte passaremos ao remate das uniões e aos acabamentos.

Um blank poderá conter certa quantidade de resinas totais. Quanto maior for a quantidade de resinas totais que a parede da cana tenha, mais alteradas serão as propriedades do carbono, porque menor será a quantidade deste. Quanto maior for o módulo de um material menor o diâmetro de fibras que se podem aplicar, podendo assim utilizar menor quantidade de resinas que prejudicando menos o comportamento da cana.

FORMA

Como sabem as nossas canas têm entre 4 a 5 metros de comprimento. A razão da sua construção cónica é de poder dobrar sobre o seu próprio eixo. O arco efectuado pela cana será tanto mais acentuado e mais fácil de produzir quanto maior for a sua conicidade. Inversamente uma cana com uma baixa conicidade, será uma cana mais difícil de dobrar e por isso de lançar com ela e marcará menos as picadas.

As canas de acção de repartição, têm uma grande conicidade e as canas de acção de ponta, possuem uma conicidade menos acentuada. As canas de repartição, jogam com a conicidade, com os módulos de carbono e a grossura das paredes, para obter uma cana que se dobra com certa facilidade, que acumula todo o seu poder na parte de baixo com uma parede bastante grossa e com uma ponta bastante elástica e flexível, que marca bem as picadas.
As canas de acção de ponta, jogam com uma escassa conicidade e com carbonos de muito alto módulo, para fazer com que a sua compressão seja rápida e seu arco menos vincado.

A ACÇÃO DAS CANAS

Vamos dividi-las em quatro tipos, dando uma explicação simples.

Acção de ponta: canas potentes, duras, requerem lances rápidos e têm ponteiras pouco sensíveis. Actualmente, as ponteiras destas canas tendem a surgir numa forma híbrida para detectar os toques e aguentar as montagens em condições de mar bravo. Requerem uma força grande física, e conhecimentos técnicos de lançamento, para se poder tirar o máximo partido delas. Não são canas para o grande público.

Acção Semiparabólica: Cana ideal para pescadores não “dotados” para os lançamentos, já que permite pescar a muita boas distâncias e têm uma boa detecção dos toques. È uma cana mais agradável de lançar, já que descreve um maior arco, não sendo necessário muita rapidez e técnica de lançamento.

Acção Parabólica: Cana fraca para lançamentos longos e de fraca potência. O seu blank dobra-se quase totalmente com bastante facilidade. Têm uma grande conicidade e são muito sensíveis aos toques, dando mais gozo na hora das capturas.

Acção de Repartição: Canas muito potentes e robustas. Permitem grandes lançamentos e detectam muito bem os toques. São canas muito exigentes em técnicas de lançamento, em força, não sendo necessário lançar muito rápido com elas.

PASSADORES E TIPOS DE PASSADORES

A influência dos passadores numa cana é um aspecto muito importante.
O comportamento de uma cana não é só dado pelo pela construção do blank, é muito importante o número de passadores que esta tenha e a sua colocação.

Em geral uma cana com os passadores colocados bem acima ou com um único passador na parte do meio, estará pensada para que dobre com maior facilidade a sua ponteira (acção de ponteira). Uma cana com a disposição dos passadores mais perto do porta carretos, ou com dois passadores na parte do meio, estará pensada para ter um arco maior (repartição, semi parabólicas rígidas).
Quando falamos em passadores surge um nome, FUJI, que é o expoente máximo em tecnologia da sua construção e montagem.

Boas pescas.

Paulo karva

Nota: Este artigo, de minha Autoria, foi publicado no primeiro número da revista " O Pescador"

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